segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Último dia

Se todos nós temos um herói quando criança, o meu veio depois da fase adulta e chama-se Alfredo Montenegro. Pedalei o mais forte que pude durante os 5 primeiros dias, e não poupei esforços para galgar o maior número de posições durante estes dias. Alfredo manteve-se forte e não fraquejou durante as vezes que tinha que me acompanhar, e acompanhou. Contudo, minhas forças se acabaram no 5º dia já que no sexto e último dia não peguei nem de empurrão.
Hoje no sexto e último dia, já fazem seis dias de chuva. Nestes dias dormimos com chuva, acordamos com chuva, largamos com chuva, chegamos com chuva e pedalamos com chuva. Hoje, de todos os dias, foi o dia em que o frio veio com maior intensidade e isso me maltratou muito. Inclusive, para muitos – se não a maioria – hoje foi o dia mais duro de Claro Brasil Ride e talvez por ser o último dia, este não eliminou a ninguém.
Saímos leve sem muitas pretensões, mas esperando para melhorar e então atacar. Mas este momento não veio. Com tanto frio eu me concentrava em encontrar alguma parte de meu corpo que não estivesse doendo para me concentrar nele e não pensar no restante. Mas não encontrei, não havia nenhuma parte de meu corpo que não estivesse doendo naquele dia. Lembrei-me do Cape Epic na África, onde Alfredo tomava Dorflex ou invés de BCAA. Só com um detalhe, hoje era eu que tomava. Tomei dois durante os momentos que estava pedalando e não adiantou de nada. E o frio? Tinha momentos que eu não sentia minhas mãos e que o comando de minha mente para a passagem de marcha ia, mas não voltava à mente a resposta de que as marchas tinham sido passadas. Eu sabia que passava de marcha porque a pedalada ficava diferente.
Hoje não foi fácil para ninguém e a imagem de meus amigos Geraldão e Wallace, ambos de Crato, me abalou um pouco mais. Eu os vi no primeiro terço de prova já com problemas na bicicleta. Geraldão havia quebrado seu câmbio e a idéia que para mim estava sendo difícil, fortalecia a minha preocupação de que para eles estava mais difícil ainda. Porém, conhecendo meu amigo como eu conheço, sabia que a última coisa que ele iria fazer era desistir e isso me gratificava.
Nos 98 km de prova de hoje, acredito que mais de 80 foram com lama ou água. Hora a água chegava a cintura e em outras a lama ia ao joelho. Quando estávamos no barro, este parecia cola e não deixava a bicicleta desenvolver velocidade. Já faltando os últimos 20 kilômetros minha perna direita parou de responder a vontade de minha mente, e perdi os movimentos desta perna que não respondia mais. Daí então passei a pedalar com a perna esquerda apenas e a ajuda de Alfredo Montenegro que me empurrava pelas costas. Não sabia em que me concentrar, tudo doía, e minhas emoções entravam em conflito com minhas razões. A razão e a lógica dizia que eu ia chegar – de um jeito ou de outro isso seria lógico – e a emoção já não acreditava que seria possível.
Este dia foi o dia em que ficará marcado, pelo menos até aqui, como a pedalada mais difícil de minha vida.
Mas enfim, chegamos e junto com a chegada àquela incrível sensação de vitória, sensação que justifica tudo isso e nos satisfaz, que muitas vezes vem acompanhada de lacrimas como foi hoje.
Na chegada, a organização mais uma vez nos surpreende. Chocolate quente... Não acredito... Com aquele frio... Ainda não acredito... O apoio de todos que nos aguardam na chegada da prova... Amigos... Organizadores... Fotógrafos... Jornalistas... E chocolate quente.
Já haviam chegado Lucídio e Simão, que por sinal não tínhamos os visto a prova toda. Partiram na frente e assim chegaram. Logo após nossa chegada nossos amigos foram chegando aos poucos, com a Dupla Geraldo e Wallace também chegando com sua incrível história de superação, perseverança e espírito de companheirismo e cooperação, coisa que eles tinham muito e que foi fundamental para aquela vitória. Principalmente daquele dia incrível...
No final da Claro Brasil Ride chegamos todos e os cearense tiveram 100% de aproveitamento.
Fomos 12 na saída e fomos 12 no final.
Parabéns a todos os envolvidos com a Claro Brasil Ride, esperamos que esta competição torne-se um ícone do mountain bike mundial, pois seus organizadores merecem assim como todo o esporte brasileiro e seus participantes merecem.
Parabéns mais uma vez, e até 2011 se DEUS QUIZER!!!
Claro Brasil Ride: em 2011 de 23 a 29 de outubro. A maior prova mountain bike brasileira de todos os tempos...
Carlos Lopes

Nenhum comentário:

Postar um comentário